terça-feira, 5 de março de 2024

«O Silêncio em Volta», M. T. Horta (e a avó Camila) OU Ler antes do «Plano Nacional...»

Ameaça

Por vezes há
um incerto silêncio
à minha volta…
 
Que me quer ferir
e rasga
 
Me ameaça
e desgraça            
Me deseja
e me desata

- poema inédito, na Capa do jornal, daquela jornalista que, aos 86, é «Directora por Um Dia»; Entrevista lida, de manhã, no Metro

RECORTE(s):
[...] Havia a influência da sua avó...
Sim. As mulheres da minha vida eram muito mais ousadas do que os homens. Eu não sei como seria se não fosse a minha avó. Sentávamo-nos as duas e o meu pai tomava o pequeno-almoço e lia o jornal. O jornal só vinha para o meu pai, o Diário de Notícias, e nós não podíamos ter nem uma coisinha para ler. [...]
Como se chamava?
Camila, a minha avó Camila, a mãe do meu pai. Vivia connosco. Foi a primeira mulher a ir para o liceu em Portugal, e isso fazia tanta diferença, porque as meninas não iam para o liceu.   [...]
Aprendeu a ler em casa porquê?
Tinha uma grande curiosidade e sempre achei que ia ser muito bonito ler. No escritório do meu pai, havia estantes pelas paredes. Eu tinha sete ou oito anos e não podia pegar num livro. Quando o meu pai ia com a minha mãe a casa dos amigos ou ao cinema, a minha avó ia direitinha ao escritório do meu pai, sentava-se e dizia-me: “Escolhe um livro.” Era uma coisa espantosa. Hoje não era aquilo que sou se não fosse a minha avó.
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