quinta-feira, 26 de outubro de 2017

«De que me serviu ir correr mundo» - Maria do Rosário Pedreira

[dia perdido; corrida «descontrolada» a Coimbra e ... (para esquecer)] 
[«e o Resto não se diz...»]
-mas, pelas 20 e 45, o poema de M. do R. P. dito pela própria no Vida Breve de hoje:

De que me serviu ir correr mundo,
arrastar, de cidade em cidade, um amor
que pesava mais do que mil malas; mostrar
a mil homens o teu nome escrito em mil
alfabetos e uma estampa do teu rosto
que eu julgava feliz? De que me serviu

recusar esses mil homens, e os outros mil
que fizeram de tudo para eu parar, mil
vezes me penteando as pregas do vestido
cansado de viagens, ou dizendo o seu nome
tão bonito em mil línguas que eu nunca
entenderia? Porque era apenas atrás de ti

que eu corria o mundo, era com a tua voz
nos meus ouvidos que eu arrastava o fardo
do amor de cidade em cidade, o teu nome
nos meus lábios de cidade em cidade, o teu
rosto nos meus olhos durante toda a viagem,

mas tu partias sempre na véspera de eu chegar.


Maria do Rosário Pedreira, de Nenhum nome depois, Lisboa, Gótica, 2004, p. 59