quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Tempo da Espera - Ana Paula Tavares

Ontem, 9 horas.

T. escreve o habitual poema na Tela do Vizinho da Frente - Mestre J. L., pintor, da «colheita de 55», tal como T. 

O Cercado

De que cor era o meu cinto de missangas, mãe
feito pelas tuas mãos
e fios do teu cabelo
cortado na lua cheia
guardado do cacimbo
no cesto trançado das coisas da avó

Onde está a panela do provérbio, mãe
a das três pernas
e asa partida
que me deste antes das chuvas grandes
no dia do noivado

De que cor era a minha voz, mãe
quando anunciava a manhã junto à cascata
e descia devagarinho pelos dias

Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe
se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera
p'ra lá do cercado

Ana Paula Tavares (1952;-), Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001)
[transcrito da p. 26 da edição da Caminho, de 2010 - conjunta com A cabeça de Salomé)

a) sempre paciente com T., J. L. leu o poema [para uma Plateia algo «pasmadita», diga-se]
b) informou da coleção de «provérbios nas tampas das panelas», próprias de [...] angolanas, a ver no Museu de Etnologia