terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Sonetos e palavrões - Duvivier

[seria o terceiro ou quarto texto que M. iria oferecer às distintas Figuras do C. P., amanhã; releu todos os textos de Sonetos (outubro de 2017), de Duvivier, mas D. interveio, alertando para a «deselegância» da escolha...
- fica aqui o soneto escolhido (só com um «Palavrão», coisa rara em tal livro...):

Repare nas pessoas conversando:
Não é um bate-papo, é uma luta.
Todos querem pra si o olhar do bando.
Ninguém se entende nem sequer se escuta.

Pode até parecer civilizado
Mas se olhar com cuidado e lucidez
Perceberá que quem está calado
Só espera chegar a sua vez.

Fale merda. Alguém no mesmo instante
Dirá uma merda mais irrelevante
Que não tem nada a ver com a merda acima.

Falar só serve para fazer barulho.
Este poema, mesmo, é um entulho.
Não muda nada - mas ao menos rima.

Gregorio Duvivier, Sonetos, Tinta da China, 2017 (out.), p. 17