sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

«Exame», Sena

[o 2.º Q.do de 1718 apresenta o habitual Perfil das «50-50»[...]; ontem, uma das VDT.s  , «brandindo» uma das «listagens senianas»:
«Ó M., já ouviu falar de Jorge de Sena?» [Santíssima ARROG...]  ... lá foi  M. «reler qualquer coisinha...»]

«EXAME»

I
Estendo as mãos
eternamente as minhas mãos
e toco a realidade sem acreditar nela.

Há casos em que as mãos não perdem a luminosidade.

A crença que eu tenha vai delicadamente sobre elas
buscando a própria extensão com que as enchi.

II
Realmente existe um mármore como existe um desgosto.

E a força que distrai os homens visíveis da presença ambulante
é comum às pedras e em especial aos mármores
na apreensão da mínima diferença.

III
De mim conservo as mãos erguidas em redor do teu rosto,
e do teu rosto a praia extensa que o vento alisou para sempre

Não há pegadas senão o ruído das ondas.


Jorge de Sena, Coroa da terra, 1946
[livro reeditado em Maio de 2021: aleluia]