LUSÍADA
Desterro
desconcerto desatino
vai-se a
vida em palavras transmudada
vai-se a
vida e cantar é um destino
página a
página de pena e espada.
Conjura
desengano má fortuna
oxalá só
vocábulos mas não
a escrita
não se cinde a vida é una
cantar é
sem perdão é sem perdão.
Quebrar a
regra nenhum verso é livre
outra é a
norma e a frase nunca dita
lá onde de
dizer-se é que se vive.
Cortando
vão as naus a curta vida
transforma-se
o que escreve em sua escrita
Lusíada é
a palavra prometida.
Manuel Alegre, Com que pena ─ Vinte poemas para Camões, D. Quixote, 1992, p. 43