Alberto Savinio, A cidade das Promessas, 1928, Paris, Galeria Daniel Malingue - reproduzida na página 70 da obra de Eco
cerca das 13:45
INTERVALO. B., a Felina do Bloco A, entra, ladina. Apodera-se do Marcador Azul e «vagueia» pelo Branco Quadrado.
Armado em Cuco, não «aos cucos», G. aproveita [A Qd.a estivera a «fazer listas» no anterior Quadrado.]
Fala-lhe do livro de Eco, resultante da exposição «Vertiges de la liste», em 2009, no Louvre. [Afinal, pretexto para G. começar a tarde, retomando o mesmo.]
[Entrevista, de então, a ECO - AQUI]
Um RECORTE do capítulo 5, «Listas de coisas» O receio de não conseguir dizer tudo não tolhe apenas defronte a uma infinidade de nomes, também o faz defronte a uma infinidade de coisas. A história da literatura está cheia de colecções obssessivas de objectos. Certas vezes, estas colecções são fantásticas, como aquela dos achados que (relata Ariosto) Astolfo encontra na Lua, onde foi recuperar o cérebro de Orlando, outras vezes são inquietantes, como acontece com o elenco de substâncias malignas usadas pelas bruxas de Macbeth, de Shakespeare, por vezes são delirantes de perfumes, como a colecção de flores que Marino descreve no seu Adónis, às vezes são pobres e essenciais, como a recolha de detritos que permite a Robinson Crusoé sobreviver na sua ilha [...] certas vezes são vertiginosamente normais, como a imensa colecção de objectos insignificantes que povoam a gaveta da cozinha de Leopold Bloom no Ulisses, de Joyce, outras ainda são nostalgicamente ternas, mesmo na sua imobilidade digna de um museu, e quase funéreas, como a colecção de instrumentos musicais da qual nos fala Mann, no Doutor Fausto. Por vezes as coisas são simplesmente odores, ou melhor, fedores, como na cidade descrita por Suskind
[sublinhado que está a cor diferente foi acrescentado]
Umberto Eco. A vertigem das listas. 2009, Lisboa. Difel, p. 67
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