- [de manhã, no «Pôr do Sol», atingida a p. 105, de 284]
RECORTE(s):
Mas um dia, tinha eu uns catorze anos, o professor de Português pediu-nos uma composição. Pus tudo quanto tinha naquela página, suei o texto de cor. A minha avó disse-me: «Vais arrasar.»
O professor leu-o em voz alta à frente da turma com uma ênfase um pouco excessiva que não me agradou. Nenhum sítio é tão púdico e depravado como um colégio de rapazes. Fosse pelo dramatismo com que o professor lia, [...] fosse por eu ter escrito puta, os meus amigos começaram a rir.
O professor leu-o em voz alta à frente da turma com uma ênfase um pouco excessiva que não me agradou. Nenhum sítio é tão púdico e depravado como um colégio de rapazes. Fosse pelo dramatismo com que o professor lia, [...] fosse por eu ter escrito puta, os meus amigos começaram a rir.
«Mas o assunto é sério», disse o professor. «Que fique muito claro. Combatemos a desonestidade, mesmo quando algum de vós tem um avô famoso.»
A desonestidade era eu ter plagiado um texto de Campelo.
Depois, não sei porquê, o professor cuspiu para as mãos, esfregou-as e dispensou a turma. Aprendi que a inveja é cuspo nas próprias mãos.
Afonso Reis Cabral, O último avô, p. 90
[I CAPÍTULO]; [ENTREVISTA; OUTRA]; [OUTRO RECORTE];