segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Cruz na Porta = «desde ontem a cidade mudou» + «Receita de Ano Novo» (C. D. de A.)

 - O Estaminet da Graça que nunca fecha - e onde dominam Luso - Oficiantes na 3.ª Idade - abriu hoje uma Excepção e fechou: Cruz na Porta..., sem mais INFO alguma....; como, ao lado, a Havaneza (tabacaria, sim, mas da Graça) tb. estava fechada, remeteu-se para o poema (talvez) de Campos:

Cruz na porta da tabacaria!

Quem morreu? O próprio Alves? Dou

Ao diabo o bem-estar que trazia.

Desde ontem a cidade mudou.

 

Quem era? Ora, era quem eu via.

Todos os dias o via. Estou

Agora sem essa monotonia.

Desde ontem a cidade mudou.

 

Ele era o dono da tabacaria.

Um ponto de referência de quem sou.

Eu passava ali de noite e de dia.

Desde ontem a cidade mudou.

 

Meu coração tem pouca alegria,

E isto diz que é morte aquilo onde estou.

Horror fechado da tabacaria!

Desde ontem a cidade mudou.


Mas ao menos a ele alguém o via.

Ele era fixo, eu, o que vou.

Se morrer, não falto, e ninguém diria:

Desde ontem a cidade mudou.

14-10-1930

Atribuído a Campos, na edição de Cleonice Berardinelli, IN – CM, Lisboa, 1992

[Bernardo Soares?]

- de resto, nesta bonita manhã de Sol de Inverno, enquanto R. «deambulava»,  cruzava-se com «estonteados TURIS;  não largam o CH...; Clima abençoado?; 

- quanto ao poema de Carlos Drummond de Andrade, AQUI, por exemplo