quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Reabertura + «A gata» (Fernanda Botelho) + Natália

 - de manhã, pelos transportes, foi lendo (tê-lo-á lido em finais de 80?) «a gata e a fábula*»; na FNC., para «comemorar» a reabertura do «ALPA»,  a recente reedição do livro de M. V. da Costa...; ... dia de Natália, tb.; no Ípsilon, por ex.;, poemas ditos pela própria, no «Vida Breve», de 11 de Set. a 15 de Set.; 

* RECORTE:
    Quem? Quem poderia ouvi-la? Os pais dele, lá no fundo da casa? Nuno Duarte já estava no Porto; as miúdas dormiam um sono pesado - a gata sabia! «Amanhã. quando vir o teu pai, digo-lhe!», ameaçou ele. A gata sorrira, sorrira «Ze-e-e-e-e! » A gata falara - palavras de ódio e desprezo! - que feriram como garras e deixaram para sempre marcas no coração do pobre menino bom. «Quero ficar aqui», dissera ela. Estendera-se ao comprido, a seu lado; e, petulante, rira de mansinho, ou, não sendo riso, miara um som miúdo que lembrava exaltação de gata a alastrar em chão de erva, garras esticadas a reclamar superfícies onde se enterrassem. «Vai para a tua cama, Paulinha! Podem saber!...» «Ze-e-e-e! » A gata recolhe as garras, enrosca-se, e mia: «Quem? Quem é que vai saber?» Só se tu disseres!» Enrosca-se ainda mais, aliciante; o menino bom reduz-se, medroso; e, enquanto a gata se enrosca cada vez mais, cada vez mais ele se vai reduzindo. [...]

.Fernanda Botelho, A gata e a fábula [1960], Abysmo, 2018, p. 60