quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

«Querido Pai» + quarta longa

- quando M. referiu a escassez de textos de E. de A. dedicados à Figura paterna, e que «ainda ontem relera um, que não era bonito», C. S., do 3.º Bloco, quis lê-lo...
SEGUE:
      Nada sabia de marés, com algumas partias, com outras regressavas. Um dia, já há muito, deixei de te ver. Disseram-me que morreste, e que foste meu pai. É capaz de ser verdade, e ultimamente tenho imaginado como terias morrido. Espero que tenha sido sobre os teus olhos, que foram muito belos, que a morte haja começado com rigor o seu ofício. Era neles que incidia o meu desejo. Quando penso em ti, vejo-te de órbitas vazias, um sangue escuro invadindo-te a boca. Apodreces. Apodreces como toda a gente, só um pouco mais de lado, porque a morte deve ter prosseguido o seu trabalho sobre o coração. Que procurava ela quando o levou à boca? Está agora sobre o centro do teu ser, aí refocila  voluptuosamente, crava os dentes até arrancar os teus mais viris ornamentos, e cuspir-tos na cara. Foi pena que já não pudesses ouvir as suas gargalhadas ao longo do corredor.
    Onde me espera.

Eugénio de Andrade, de Limiar dos pássaros (da secção "Verão sobre o corpo") (1ª ed.: 1976); transcrito da p. 271 da ed. de Poesia, de 2005


- das 16 às 17 e 30: «C. P.» suplementar, «sobre o Perfil»...; com adesão «massiva»... será já efeito do «DESCONG.»?
- das 17 e 30 às 19: REUN., pacífica, com as Pares
- UFF!