segunda-feira, 5 de junho de 2017

«Nome ( o que não há num)» - Ana Luísa Amaral

- poema em «contraponto» ao que dá título ao Livro?
- lido, pela própria A. L. A., em «A vida breve», de 5 de junho - AQUI

[para J. F. e A. C. B. e, um dia, para M. B. F....]

O QUE NÃO HÁ NUM NOME

Sentada a esta mesa, a varanda à direita,
como de costume, 
penso na minha filha e no nome que lhe demos,
eu e o seu pai, quando ela nasceu

Um nome é coisa de fala e de palavra,
tão espesso como aquelas folhas que, se pudessem olhar,
me haviam de contemplar daquele vaso,
perguntando-me por que se chamam assim

Porém, não fui eu quem escolheu o nome da flor
a quem pertencem essas folhas:
o nome já lá estava, alguém pensou nele
muito antes de mim, e foi decerto a partir do latim,
só depois: o costume

Mas não há nada de natural num nome:
como uma roupa, um hábito, normalmente para a vida inteira,
ele nada mais faz do que cobrir
a nudez em que nascemos

Com a minha filha,
o mais belo de tudo, a maior deflagração
de amor - foi olhar os seus olhos,
sentir-lhe o toque em estame
dos dedos muito finos

esses: sem nome ainda,
mas de uma incontrolável
perfeição                 inteira


Ana Luísa Amaral, What's in a name?, Assírio, 2017 (Abril), pp. 63,64 ( da segunda «Secção», »Povoamentos»

- a 23 de Junho de 2021, «Que há num Nome?», verbete de M. do R. P., no H.s Ext.as, pelo prémio Rainha Sofia...