[livro de 2015, atentamente lido (e registado) no Rugido; (re) localizado... com 9 «marcas» (o da Ímpar ou o da Par? Impossível, o «porquê»...; Marcas «percorridas» pela Menina P. - do 2.º Bloco -, num destes dias...]
MÚLTIPLAS MÃOS
As mãos amadurecem, sorvem todo o sol
a que cada corpo tem direito
apenas porque nasce.
Mas há mãos excessivas e maduras de sonhos,
conchas duma maré que erra nas dunas
e se arrasta entre as areias mortas
e as nuvens térreas, brônzeas,
não santificadas.
Eu vejo-me nas mãos dos outros animais,
castigam-me pesadas
contra os umbrais da noite.
São as graças do chumbo, fotos negativas
da alegria do mundo,
recolhem todo o peso dos corpos
naufragados.
E são as mãos da alma, mãos recolhidas da vida,
tão belas e tão fúnebres,
que o fogo, o fogo apenas as acaricia
com a leve e muda labareda
de deus.
Armando Silva Carvalho, A sombra do mar, 2015 (Julho) Assírio & Alvim, p. 90