segunda-feira, 25 de maio de 2020

«Correm turvas as águas...», CAMÕES

- não sabe F. explicar por que é que, depois da «Sessão Síncrona com Pares»,  foi para aqui buscar este soneto de Camões...

Correm turvas as águas deste rio,
que as do Céu e as do monte as enturbaram;
os campos florescidos se secaram;
intratável se fez o vale, e frio.

Passou o Verão, passou o ardente Estio;
uas cousas por outras se trocaram;
os fementidos Fados já deixaram
do mundo o regimento, ou desvario.

Tem o tempo sua ordem já sabida;
o mundo não; mas anda tão confuso,
que parece que dele Deus se esquece.

Casos, opiniões, natura e uso
fazem com que nos pareça desta vida
que não há nela mais do que o que parece.

Luís de Camões, Rimas